Um colega outro dia, referindo-se ao fraco desempenho de um político, disse algo que me fez pensar. Entre as múltiplas razões que ele deu para o terrível mandato do cidadão, uma fechou com chave de ouro: "ele nem sequer acredita em Deus! Um absurdo!". Não me interessei em saber exatamente os motivos que faziam meu colega julgar tal característica tão fundamental, mas pude sentir em sua expressão um tom de seriedade que não deixava margem para dúvidas. O que ele queria mesmo dizer era: o que se pode esperar de alguém que não acredita em Deus?
O mais intrigante é que, de fato, a opinião de meu colega reflete em parte o que o povo, sobretudo em países com fortes traços de religiosidade, pensa. Chegaram até a fazer uma pesquisa que comprovou parcialmente isso. Há alguns anos, perguntaram a centenas de pessoas quais seriam as características fundamentais num político. O objetivo era saber qual o perfil dos candidatos que têm mais aceitação entre os eleitores (pesquisas que todos os partidos fazem antes de lançar um nome). O resultado foi curioso, ainda que esperado. Uma minoria considerou a hipótese de votar num candidato que fosse ateu.
Naturalmente, não tenho nada contra os políticos que possuem uma identidade religiosa. E nem sequer culpo o povo por relacionar fé com bom desempenho político (a meu ver, são coisas totalmente distintas). É que a religião, ao longo dos séculos, criou uma imagem que perdura até hoje. Imagem de princípios éticos e morais, de cuidado com o próximo e, sobretudo, de submissão a um plano maior, de submissão a Deus. Isso não é pouco, se pensarmos que vários setores do mundo Ocidental são regidos, explícita ou implicitamente, por elementos cristãos.
O que chama a atenção, no entanto, é que - para uma parcela significativa dos entrevistados da pesquisa - ateísmo significa justamente o contrário: falta de caráter, de princípios, de amor
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Em breve...
ao próximo, falta de honestidade. Ou seja, um cidadão que se diz ateu, segundo essa concepção popular, é capaz de qualquer coisa. Portanto, é um perigo a ser evitado. Melhor não votar nele.
Infelizmente, somos obrigados a reconhecer (pelo menos aqui no Brasil) que o único presidente que se declarava abertamente ateu acabou sofrendo impeachment e nunca mais recobrou a confiança dos que o elegeram. Mas, não se pode esquecer: Adolf Hitler julgava estar fazendo a obra de Deus quando matou milhões de judeus nos campos de concentração.
É provável que meu colega só tenha se lembrado do Collor para dizer que ateísmo e política não sugerem final feliz. Porém, poderíamos passar horas a lembrar de políticos cristãos que também não honraram os votos que fizeram. Uma coisa nada tem a ver com outra. A história, aliás, a mais sábia das "escolas", parece indicar exatamente o contrário: manter o estado laico ainda é a melhor alternativa num mundo de tantos fanáticos.
Um abraço,
Crônica escrita pelo autor e escritor Gustavo Miranda
Você pode visitar o perfil deste autor no site Autores.com CLICANDO AQUI
O mais intrigante é que, de fato, a opinião de meu colega reflete em parte o que o povo, sobretudo em países com fortes traços de religiosidade, pensa. Chegaram até a fazer uma pesquisa que comprovou parcialmente isso. Há alguns anos, perguntaram a centenas de pessoas quais seriam as características fundamentais num político. O objetivo era saber qual o perfil dos candidatos que têm mais aceitação entre os eleitores (pesquisas que todos os partidos fazem antes de lançar um nome). O resultado foi curioso, ainda que esperado. Uma minoria considerou a hipótese de votar num candidato que fosse ateu.
Naturalmente, não tenho nada contra os políticos que possuem uma identidade religiosa. E nem sequer culpo o povo por relacionar fé com bom desempenho político (a meu ver, são coisas totalmente distintas). É que a religião, ao longo dos séculos, criou uma imagem que perdura até hoje. Imagem de princípios éticos e morais, de cuidado com o próximo e, sobretudo, de submissão a um plano maior, de submissão a Deus. Isso não é pouco, se pensarmos que vários setores do mundo Ocidental são regidos, explícita ou implicitamente, por elementos cristãos.
O que chama a atenção, no entanto, é que - para uma parcela significativa dos entrevistados da pesquisa - ateísmo significa justamente o contrário: falta de caráter, de princípios, de amor
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ao próximo, falta de honestidade. Ou seja, um cidadão que se diz ateu, segundo essa concepção popular, é capaz de qualquer coisa. Portanto, é um perigo a ser evitado. Melhor não votar nele.
Infelizmente, somos obrigados a reconhecer (pelo menos aqui no Brasil) que o único presidente que se declarava abertamente ateu acabou sofrendo impeachment e nunca mais recobrou a confiança dos que o elegeram. Mas, não se pode esquecer: Adolf Hitler julgava estar fazendo a obra de Deus quando matou milhões de judeus nos campos de concentração.
É provável que meu colega só tenha se lembrado do Collor para dizer que ateísmo e política não sugerem final feliz. Porém, poderíamos passar horas a lembrar de políticos cristãos que também não honraram os votos que fizeram. Uma coisa nada tem a ver com outra. A história, aliás, a mais sábia das "escolas", parece indicar exatamente o contrário: manter o estado laico ainda é a melhor alternativa num mundo de tantos fanáticos.
Um abraço,
Crônica escrita pelo autor e escritor Gustavo Miranda
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